Características epidemiológicas e moleculares da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana em gestantes no Estado do Piauí, Brasil

Abstract

Estima-se que, desde sua descoberta em 1981 até o final de 2018, 74,9 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e que 32 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS desde o início da pandemia. Em relação a infecção de crianças (até 13 anos), 84% dos casos são decorrentes da transmissão vertical. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo identificar as principais características epidemiológicas da infecção pelo HIV em gestantes atendidas em maternidade de referência no Piauí, nordeste do Brasil. Trata-se de estudo prospectivo com a participação de 873 gestantes atendidas na Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), realizado no período entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017. Para tanto, foram realizadas coleta de amostras, de informações epidemiológicas e o diagnóstico da infecção pelo HIV, realizados através de testes de anticorpos anti-HIV-1/2 (Imunoblot HIV-1/2). Ainda, foram realizados diagnóstico de sífilis (VDRL e Teste Rápido Treponêmico), contagem de LTCD4 (Citometria de Fluxo) e de Carga Viral (PCR-Real Time). A análise filogenética permitiu a comparação com outras cepas da literatura e a determinação da presença de mutações de resistência (DRM). Os dados foram analisados através do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences 20.0 (SPSS). Para análise comparativa, utilizou-se o teste qui-quadrado ( 2 ), com nível de significância 5% (p<0,05). Do total de participantes,17 amostras deram positivo para HIV e foram genotipadas para determinação dos subtipos. A prevalência das gestantes com HIV foi de 1,95%, caracterizadas como donas de casa, idade entre 12 a 35 anos, heterossexuais, com companheiro, ensino fundamental, residentes de área urbana, casa própria e renda familiar de um a dois salários mínimos. Foi verificado que 41,2% das gestantes realizaram entre 0 e 6 consultas; 76% estavam no 3º trimestre de gestação; 54,3% dos partos foi cesariana; 44,6% eram primíparas e que 72,5% dos recém-nascidos tinham mais de 2,5 kg. Não foram observadas significância estatítica nas correlações entre os parâmetros carga viral do HIV-1 e de contagem de LTCD4 com os parâmetros comportamentais observados. Todas as amostras soropositivas para o HIV-1 foram classificadas como subtipo B (100%). Foram detectadas DRM para duas amostras, as sequências PW 300 e PW 815. Na sequência PW 300 foi encontrada a mutação L90M, enquanto que na sequência PW 815 foram detectadas mutações L90M e K103N. L90M é uma mutação de resistência a inibidores da protease (IP) do HIV-1, classificada como de alta resistência ao medicamento nelfinavir e de resistência intermediária ao indinavir e saquinavir; já a mutação K103N é associada a inibidores não-nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR) do HIV-1 e classificada como de alta resistência a nelfinavir e nevirapine. Ao final, foi desenvolvido um fluxograma de monitoramento a saúde das gestantes a fim de nortear o atendimento e atenção integral a gestante HIV positivo no Estado do Piauí. Conclui-se que, para ocorrer a diminuição dos fatores de risco do binômio mãe filho e da transmissão vertical do HIV, é de fundamental importância o diagnóstico precoce, a quantificação da carga viral, realização da genotipagem e uma decisão acertada na escolha do esquema terapêutico, evitando desta forma o aparecimento de cepas de resistência.